quarta-feira, 30 de outubro de 2013

História Do Design

Introdução

  A História do Design é uma história muito recente, apenas três séculos nos separam do surgimento do Design como uma ciência com seus próprios conhecimentos, métodos e técnicas. Isto não significa que não houve design antes da era moderna. Podemos considerar design todos os objetos que se criaram desde o surgimento da humanidade; mas, como o termo é muito abrangente porque inclui toda a cultura dos objetos materiais, a História do Design se inicia no momento em que esta cultura se torna uma ciência. Nossa história se inicia então no momento em que se configuram todas as ciências modernas e em que mudam os sistemas de produção: O Iluminismo e a Revolução Industrial.
  Para estudar a História do Design deveremos considerar o contexto histórico, social, cultural, tecnológico e científico de cada  época, e de maneira especial a relação do Design com os movimentos artísticos que foram o marco de referência estética.
  Mas o que é Design? No Brasil o termo deriva da palavra inglesa que é usada como um substantivo: design  (planificação, propósito, objetivo, intenção) e como verbo to design (projetar, simular, esquematizar, planificar). A Origem esta relacionada á produção de um signo derivado do latimsegno (Rossi, 2008). No latim medieval a palavra designar e significava designar, diagramar, achar meios para, formar alinhando-se com a  ação de projetar. Desenhar então é uma forma de projetar e designar as formas. Do latim derivou a palavra italiana disegno depois derivou em dessein no francês, diseño em espanhol, desenho em português e design em inglês (Martins, 2007). Mas estas palavras tiveram o sentido alterado através do tempo derivando em dois conceitos conectados: um mais direto que se refere ao ato de desenhar que no inglês foi substituído pela palavra draw (além de desenhar significa extrair, atrair, chegar a uma conclusão, basear-se em) e no espanhol pela palavra dibujo; e um indireto que se refere ao ato de planejar, designar e projetar que no inglês ficou como design e no espanhol como diseño.
  Esta alteração no sentido da palavra design nos países de língua inglesa se acentuou com a Revolução Industrial que originou novos usos que respondessem ás novas atividades produtivas. Nesse contexto se fez cada vez mais necessário diferenciar entre o ato de desenhar (to draw)  e o ato de planificar, projetar, designar, esquematizar (to design) (Martins, 2007).
  Na língua portuguesa não houve esta diferenciação. Com a expansão da Revolução Industrial o design foi traduzido durante muito tempo dentro da sua concepção original como desenho, mas ligado à indústria: Desenho Industrial.
  Este termo foi substituído recentemente pela palavra design para superar de certa maneira as limitações, confusões e pré-conceitos sobre o que é, o que faz e para que existe o Design na sociedade brasileira.

Contexto Histórico:do Iluminismo à Revolução Industrial

As Academias e Manufaturas Reais


  A História do Design se inicia na Europa no momento em que os sistemas de produção começaram a se modificar e com eles o sistema em que os artesãos eram treinados para atender a demanda das cortes, seus reinos e suas colônias em expansão no século XVII.
  Em 1664 o rei Luis XIII da França criou a Manufatura Real de Tapeçarias e Gibelinos e em 1684 a Real Academia de Pintura e Escultura com o objetivo de liderar nas artes e no comércio como estratégia de crescimento e poder. O trabalho que se desenvolvia nas manufaturas onde trabalhavam os melhores artesãos franceses era admirado pela qualidade e beleza dos produtos. Porcelana, prataria, moveis, jardins, tecidos, roupas, jóias, cristais, arquitetura e obras de arte francesas marcavam as tendências estilísticas e culturais e a liderança na exportação de objetos de luxo daquele tempo. O propósito final desta estratégia era propagar a glória dos reis da França. Em um discurso na Real Academia de Pintura o rei Luis XIV falou assim aos artistas e artesãos que se formavam ali:
"Vocês podem julgar quanto vos estimo, porquanto eu confio em vocês o assunto mais apreciado para mim, que é minha glória"
  A Real Academia da França dirigida por Charles Le Brun mantinha uma educação que exigia a aprendizagem da arquitetura, geometria, perspectiva, aritmética,anatomia, astronomia e história e determinava as regras estéticas que todos deviam seguir. O ministros do rei tinham a tarefa de supervisionar e censurar as obras que ali se realizavam. A Real Academia supervisionava todas a manufaturas reais sob rígidos critérios estéticos e políticos.
  Por outra parte nesse século na França surgiram também academias de livre associação onde artistas, intelectuais e filósofos seguiam as tendências liberais com os quais se propagaram os valores modernos de liberdade, individualidade e independência. Este movimento chamado Iluminismo (para Iluminar a sociedade que saía das trevas) influenciou todas as áreas do conhecimento, abriu o caminho aos gritos libertários na América e atraiu monarcas ao "esclarecimento".
  As cortes européias naquele tempo reuniam artistas, cientistas e filósofos para ensinar, aprender, debater e desenvolver pesquisa como fazem as universidades hoje. Os ventos modernos haviam começado a mudar o cenário para a era das revoluções que desabrocharam no século XIX: a Revolução Industrial, as revoluções de independência das colônias européias na América, as revoluções na arte, na ciência e na tecnologia. O mundo estava mudando radicalmente.

Dumesnil, " A corte da Rainha Christine de Suécia"

  

A Era das Revoluções

  A partir da Revolução Francesa em 1789, inspirada no movimento liberal do Iluminismo, se deu inicio à era das revoluções. O ambiente cultural, científico e político se debatia entre o espírito romântico e o racionalismo científico que gerou as contradições necessárias para impulsionar às transformações em todos os âmbitos: 
  • materialismo científico vs. espiritualismo.
  • razão vs. imaginação.
  • natureza vista como máquina predeterminada vs. mistério transcendental.
  • comércio internacional vs. nacionalismo e colonialismo.
  • crescimento da burguesia e educação para todos vs. exploração da classe operária.
  As tensões criadas por estas contradições deram passo a três importantes revoluções: a revolução cultural, a revolução social e a revolução dos sistemas de produção.

A Revolução Cultural

  Eugéne Delacroix e Teodore Gericault da França, William Turner da Inglaterra, o alemão Caspar David Friedrich e o espanhol Goya são alguns dos artistas românticos que captaram o espírito emotivo deste tempo. Levaram a arte das regras clássicas racionais à emoção e á imaginação, da beleza objetiva á beleza subjetiva, re-valorizaram a beleza natural e o passado medieval, acreditaram no progresso e valorizaram as culturas exóticas e a originalidade na criação. 

     Goya  "Os Caprichos" , 1810 

  O modelo do herói romântico inspirado na figura de Napoleão era o modelos dos jovens europeus: personalidades misteriosas, sensitivas e incompreendidas, apaixonadas e criativas, gênios solitários e atormentados, intuitivos, imaginativos, introspectivos, melancólicos, pensativos e emotivos. A morte e o amor era o maior interesse da época. A literatura, a política, a arte, a música, a filosofia, tudo ganhou um ar romântico e audaz que reagia aos ditados da razão; á rápida industrialização e empobrecimento da classe operária; à violência das guerras; ao nacionalismo e á cultura do individualismo. 

Voltaire, Rousseau, Napoleão, Vivaldi, Mozart, Beethoven, Chopin, Paganini, Baudelaire, Rimbaud, Alan Poe, Nietzsche, Simón Bolívar foram foram alguns dos heróis românticos do século XVIII e XIX.
  
Antoine Gros "Napoleão"  
        
Delacroix "Chopin" 

Nadar " Baudelaire"


A Revolução Social 

  A Revolução Francesa e as guerras de independência junto as revoluções no campo das artes e da ciência levaram a uma mudança nas relações de poder. O espírito Iluminista questionava o poder secular e religioso e postulava o conhecimento como única fonte legitima do poder na direção das nações modernas. Não mais por linha de sucessão de dinastias monárquicas nem pela unção religiosa, os governantes deviam ser eleitos entre as pessoas "esclarecias". O poder era o poder do conhecimento.
  Isto resultou no levantamento contra as monarquias e as colônias e o surgimento do patriotismo nacionalista. A classe burguesa ganhou poder através da educação e das revoluções republicanas; mas as classes operárias e camponesas continuaram na base da pirâmide social.

Honoré Daumier " Vagão de terceira  classe" 1863


A Revolução Industrial

  O crescimento da burguesia tanto na Europa como nas colônias e ex-colônias determinou o crescimento da demanda. Maior produção exigiu maior competência entre as industrias. Desta maneira se fez necessário uma divisão do trabalho mais efetiva na linha de produção. Os padrões tradicionais foram sacrificados por propósitos comerciais, o que resultou em objetos menos luxuosos e mais austeros ao alcance da classe burguesa e operária.
  As fábricas necessitavam inventos mecânicos para um funcionamento eficiente. Um invento leva a outro. Desta maneira os grandes inventos modernos se sucederam sem parar:  os motores a vapor e com eles o trem, o barco, os carros a vapor e a imprensa; a câmera fotográfica, o cinematógrafo, o fonógrafo, a eletricidade e outros muitos mais.


 As ciências modernas se desenvolveram rapidamente: a  medicina, a psicologia, a arqueologia e a química farmacêutica, a industria de tintas e outros.
 A arquitetura também sofreu uma revolução importante que foi determinada pelas mudanças sociais, econômicas e culturais. Foram os arquitetos do século XIX que abriram o caminho do Design a partir da relação transdisciplinar entre a indústria, a arte e a arquitetura.


Rivalidade Inglaterra - França

  No século XIX a Grã Bretanha e a França competiram pelo domínio industrial e comercial. A Rainha Vitória tinha ampliado o poder e a riqueza do Império Britânico, tinham conhecimento, tecnologia e poder. Mas havia uma coisa que eles não tinham: a beleza do design francês.  A França se encontrava debilitada pelas guerras e intrigas napoleônicas e as constantes revoltas revolucionárias, ainda assim as Academias Reais continuaram a formar artistas e artesãos com a mesma exigência e as Manufaturas Reais continuaram a produzir peças de design de grande valor estético. Em 1830 existiam 80 academias de arte na França.
  Os ingleses preocupados com a liderança estética e cultural francesa investiram em academias para artesãos, mas os formavam separados dos artistas, como os alemães, que contavam com escolas de formação artesanal gratuita para a classe operária. Os ingleses e alemães tinham então uma formação técnica enquanto os franceses tinham uma formação artística.
  Neste espírito competitivo os ingleses organizaram em 1851 a primeira Exposição Universal chamada "A Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria das Nações do Mundo". Por primeira vez artistas, arquitetos, cientistas e comerciantes exibiram, discutiram e promoveram seus produtos. A Grande Exposição Universal de Londres foi um marco histórico para o design porque reunia em um só lugar todas os conhecimentos que no século XX deram origem a primeira escola de design. Para albergar os expositores Joseph Paxton desenhou o Palácio de Cristal. O edifício, feito com estruturas pré-moldadas de ferro e de vidro, foi uma das maiores obras arquitetônicas da história não só pela grande beleza das suas formas e da sua transparência, mas porque constituía maior revolução arquitetônico desde Roma.

Gravura anônima do Palácio de Cristal de Joseph Paxton, 1851


Gravuras anônimas de  imagens externas e internas da Exposição Universal de Londres

  As estruturas de ferro possibilitaram grandes construções que fossem leves e que inclusive pudessem ser montadas e desmontadas. O ferro das máquinas se espalhou nas obras arquitetônicas e na vida urbana da Europa do século XIX.



  O Palácio de Cristal foi desmontado depois da exposição, mas uma outra obra grandiosa da era do ferro ficou: a Torre Eiffel, de Alexandre Gustave Eiffel foi erigida com uma estrutura de ferro pré-moldado como foi o Palácio de Cristal de Londres para marcar em 1889 a 8ª Exposição Universal em Paris. A torre devia ser desmontada depois da exposição, mas permanece até hoje como símbolo da modernidade.

  
  Foram 9 exposições universais no século XIX, 12 no século XX e 4 neste século. A história do design se configurou a partir deste intercambio internacional e interdisciplinar. 

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