quarta-feira, 13 de novembro de 2013

História Do Design

Bauhaus

As Origens

  Em 1890 a Alemanha acelera a industrialização para competir com Inglaterra a a França. O clima político era fortemente nacionalista, de muito movimento cultural e procurava-se uma linguagem estilística que fosse adequada ao prestigio da Alemanha. Arquitetos como Richard Riemerschmid, que foi parte do movimento modernista na Alemanha, defendiam a idéia de que o design devia acompanhar a produção industrial pois acreditava-se que a única forma de fazer os produtos acessíveis à sociedade trabalhadora era a produção em massa. Esta era a diferença filosófica da Alemanha frente aos movimentos da Inglaterra e da França (Arts & Crafts e Art Nouveau).

Bruno Taut, pavilhão em vidro para a exposição do Werkbund, Colônia, 1914



  Esta preocupação levou á fundação da "Liga Alemã de Oficinas", a Deutsche Werkbund (DWB) em 1907 em Munich sob a liderança do arquiteto Hermman Muthesius, introdutor dos jardins ingleses do movimento Arts and Crafts na Alemanha, com o objetivo de assegurar a supremacia alemã como potencia comercial. Faziam parte desta liga arquitetos, artistas, artesãos, industrias e jornalistas que se propunham estreitar as relações entre as artes, a industria e o comércio de manufatura artesanal por meio da educação e o trabalho publicitário. Entre as propostas da DWB estava a a padronização das partes construtivas dos objetos, o design corporativo e a reforma social e cultural através do desenvolvimento da indústria moderna. Procuravam uma maior coordenação entre os atores de cadeia produtiva e o desenvolvimento da tecnologia aliada ás artes. No espírito positivista o pensamento da DWB se sustentava na idéia, (inspirada em Louis Sullivan) de que "a forma segue á função" onde a forma corresponde ao trabalho artístico e a função ao trabalho dos operários industriais. Neste caso a arte se encontrava subordinada ao interesse industrial.
  Peter Behrens foi um dos fundadores e mais destacados arquitetos da DWB, considerado o primeiro designer industrial porque foi o primeiro a criar uma identidade corporativa que compreendia o design da imagem empresarial. O mais conhecido é o trabalho que realizou para a fábrica de material elétrico AEG (Allgem eine Elektricitats Gesellschafft). Desde a arquitetura da fábrica, as ferramentas, máquinas, passando pela logomarca e pelos objetos como relógios ou chaleiras foram desenhados com a imagem corporativa da AEG.
                                                   




Peter Behrens, Fábrica de Alta Tensão, AEG 1910 e Industrias Höschst

  Até a I Guerra Mundial a DWB se manteve muito ativa influenciando outras escolas na Alemanha com a idéia de reconciliar a arte com a máquina. Em Weimar, Henry van de Velde, destacado arquiteto e designer belga do movimento Art Nouveau fundou a Escola de Artes e Ofícios de Weimar para artesãos e existia a Academia de Arte de Weimar que valorizava a expressão e individualidade artística modernas. Antes de estalar a guerra van de Velde tinha sido demitido por causa das tendências xenófobas e o arquiteto Walter Gropius tinha sido recomendado, mas não assumiu porque foi, como outros artistas, para a guerra e a Escola foi fechada. Ao mesmo tempo Gropius defendia, no meio da guerra, aumentar o curso de arquitetura e design industrial na Escola de Artes de Weimar.

Antiga Academia de Arte de Weimar

  Quando  a guerra terminou foi aceita a proposta de Gropius e convidado para dirigi-la. Ele propôs então reviver a Escola de Artes e Ofícios unida à Escola de Artes de Weimar. Assim foi inaugurada em 1919 a primeira e mais importante escola de Design como o nome de Bauhaus (casa da construção ou arquitetura) Estadual de Weimar.
  Nenhuma escola do século XX ou de tempo anterior foi tão rica em conseqüências e tão visionária como a Bauhaus. Moldada num contexto que por uma parte valorizava a tecnologia da era industrial e por outro a expressividade humana foi uma escola transdisciplinar. Entre a tragédia da guerra e a crença utópica de una sociedade perfeita o espírito alemão encontrou na Bauhaus a resposta contra a demência da violência. Mas a sua vida foi curta, o suficiente para revolucionar o pensamento do século XX no campo da arte, da arquitetura, do design, da educação, da indústria e da economia. Em 1933 foi fechada pelo exército do Terceiro Reich, na Alemanha de Hitler.
  Mas antes de conhecê-la é importante conhecer também o pensamento estético moderno que subjaze nas suas origens e que determinou o funcionalismo do design no século XX.

 O Racionalismo

  O Racionalismo foi uma tendência arquitetônica moderna internacional que se originou no pensamento de Louis Sullivan e nas correntes abstratas da arte moderna como o Cubismo, o Construtivismo Russo e o grupo De Stijl estendendo-se em toda a primeira metade do século XX. Os arquitetos racionalistas priorizavam o planejamento urbano e seguiam os princípios gerais do Racionalismo: máximo de economia, resposta ás exigências próprias do contexto, uso de recursos tecnológicos industriais, pré-fabricados e padronizados, alta qualidade, condição de progresso social e democracia, e no campo formal ordem, claridade, simetria, lógica e simplicidade.

  O Racionalismo se apresentou com variações em diferentes lugares:


O Racionalismo Formal

  Liderado pelo arquiteto Le Corbusier na França para quem a arquitetura fornece a condição natural e racional à existência e a forma artística o é resultado lógico de um problema bem formulado. Este equilíbrio entre natureza e história humana se traduz no "modulor" como medida humana para a construção do espaço habitável. esta tendência procura a claridade da forma clássica e como o Cubismo funde o fundo e a figura numa unidade (para a arquitetura natureza e sociedade). "A casa é uma máquina para viver".


Le Corbusier o "Modulor"


Le Corbusier, projeto para cidade contemporânea de 3 milhões de habitantes


O Racionalismo Ideológico

  Liderado pelo arquiteto e artista El Lissitsky na Rússia ambientado no espírito racionalista revolucionário do Construtivismo onde a arte esta ao serviço da construção da sociedade e a arquitetura a imagem símbolo do socialismo que se constrói. Nesta rama do Racionalismo a teoria da forma é a teoria da comunicação social.



Número da revista Merz, desenhada por El Lissitzky




Racionalismo Formalista

  Liderado pelo artista Piet Mondrian e o arquiteto Theo van Doesburg da corrente artística De Stijl, para os quais "o objeto da natureza é o homem e o objeto do homem é o estilo (stijl)". Para esta linha de Racionalismo a arte deve ser feita em total estado de "imunidade histórica" para eliminar as formas históricas impuras como um processo de purificação externa, acreditando assim na pureza do ato construtivo e coincidindo com o Dadaísmo no fato de recolocar a arte no ponto de partida de algo inteiramente novo.

Theo van Doesbrurg, "Contra-construção" projeto 1923

Racionalismo Empírico

  Liderado pelo arquiteto Alvar Aalto nos Países Escandinavos substitui o conceito de racionalidade por razão argumenta que deve se conservar a raiz do desenvolvimento histórico. Esta linha de Racionalismo carece de princípios políticos, teóricos ou de fórmulas compositivas, mas procura a precisão no projeto, é racionalista na prática.
Alvar Aalto Biblioteca Viipuri 1927-1935


O Racionalismo Orgânico

  Liderado por Frank Lloyd Wright nos Estados Unidos, que como havíamos visto antes, propõe uma relação orgânica entre a natureza e o ambiente de vida formando um sistema (influenciado pelo seu contato com a cultura oriental pós guerra). Desta maneira se considera o espaço como um campo de forças e não como uma relação de grandezas e a arquitetura como ação de um sujeito e não como determinante de objetos. A arte forma um sistema entre a realidade natural e cultural. 

Frank Lloyd Wright, Casa Kaufmann ou Casa da cascata 1937


Bauhaus

Walter Gropius, Bauhaus de Dessau

A Bauhaus

  A Bauhaus é a síntese dos  movimentos Arts & Crafts, Art Nouveau, da liga Deutsche Werkbund, da Escola de Artes e Ofícios de Weimar e da Escola de Arte de Weimar na Alemanha e ainda do pensamento racionalista com que os artistas e intelectuais europeus reagem frente à irracionalidade da 1ª. Guerra Mundial.
  Fundada por Walter Gropius em 1919 a Bauhaus foi concebida como uma escola democrática com o objetivo de formar profissionais no campo da arquitetura e do design que respondessem á situação da Alemanha com soluções modernas e progressistas em base ao racionalismo metodológico e ás pesquisas estéticas dos movimentos modernos da arte.      A Bauhaus teve uma orientação artística que criou um movimento cultural importante e se estendeu por toda a Europa. Walter Gropius era um grande "agitador" cultural, igual ao seu contemporâneo Le Corbusier, mas á diferença deste, Gropius acreditava na importância da educação no cenário moderno.
  Os primeiros anos a Bauhaus funcionou em Weimar enquanto uma sede própria, desenhada por Walter Gropius era construída em Dessau. Em 1925 a Bauhaus de Dessau abriu suas portas com uma proposta curricular ampliada. Gropius foi o diretor da escola até 1928, ano em que decidiu renunciar porque queria se dedicar aos projetos particulares. Assumiu o arquiteto Hans Meyer que dirigiu a escola até 1930 mudando muitos aspectos centrais com que havia sido concebida a escola, como o valor que se dava á arte no currículo. Á raiz das diferenças Meyer deixa a escola e assume o arquiteto Mies van der Rohe que a dirige até a sua clausura em 1933 em Berlim, onde tinha se mudado a escola um ano antes por causa dos fortes movimentos nazistas em Dessau. 
  A base de toda a estética bauhauseana se encontra no principio da funcionalidade racional dos objetos e espaços habitáveis. "A forma segue á função", isto é, a forma é resultado da funcionalidade do objeto ou do espaço, não do capricho pessoal ou da tradição histórica. Para a mentalidade racionalista da época o ornamento não tinha mais lugar na funcionalidade do objeto, como o havia proposto Adolf Loos em 1908 no livro "Ornamento e Crime" onde defende a "honestidade da forma". Despir as formas de ornamento foi traduzido na palavra de ordem de arquitetos e designers da Bauhaus como: "menos é mais". Desta maneira se da ênfase à forma (Gestalt) e á formação da forma (Gestaltung) derivando assim na abstração das formas geométricas simples e essenciais e nas cores primárias.
  A supremacia da arquitetura sobre o design é também um dos pilares do pensamento da escola da Bauhaus. Consideravam a cidade como sistema de comunicação intersubjetiva.Tudo está em função do espaço habitável, assim também os objetos, mas sobre tudo na idéia centrada na arquitetura como método de construção do menor ao maior dos objetos, para viver civilizadamente teria que haver uma racionalidade das grandes ás pequenas coisas.  Aliar os conceitos das vanguardas artísticas ao design de objetos não era uma novidade mas na Bauhaus levou isto ao ponto de elaborá-las como obras de arte que seriam reproduzidas porque acreditavam que os objetos são elementos de educação estética da sociedade. Para ter uma vida civilizada as pessoas deviam viver em ambientes altamente estéticos. Por isso deviam ser estudados e desenhados todos os objetos, tudo podia ser objeto de analise e projeto.
  O programa da Bauhaus sob a direção de Walter Gropius privilegiou a aliança dos conceitos das vanguardas artísticas com o design de objetos, e em todas suas fases à práxis produtiva. As aulas eram, á maneira das escolas de arte, ateliers onde a aprendizagem se sustentava no equilíbrio entre a teoria e a prática. O fato de ter entre seus professores artistas do tamanho de Wassily Kandisnky e Paul Klee evidenciam a aliança que se procurou com a arte. 
  Quando a escola passou á sua sede em Dessau o programa curricular foi ampliado dando maior ênfase à arquitetura e á tipografia, produzindo publicidade e propaganda, editando livros, produzindo objetos, móveis, cenários e têxteis.

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